Acredita-se que Chernobyl há muito se transformou numa zona de exclusão, já não representa um perigo. O nível de ameaça radioativa do local diminuiu de fato ao longo dos anos, mas ainda existe um local perigoso que pode ser fatal.
Em 8 de dezembro de 1989, foi publicado um artigo com a manchete “O que está acontecendo dentro do Sarcófago?” A matéria apresentava fotografias que mostravam pela primeira vez uma estalactite radioativa gigante, parecida com uma perna de elefante, formada a partir de lava solidificada.
Essas fotografias, tanto em preto e branco quanto coloridas, tiradas com diferentes ampliações e iluminação, ganharam fama mundial. A descoberta desse estranho objeto ocorreu no final do Outono de 1986. Após vários meses de trabalho, a equipe de liquidantes do acidente na usina nuclear de Chernobyl finalmente conseguiu adentrar no corredor subterrâneo do quarto reator de emergência. Dentro da chamada piscina borbulhante, onde conduzia uma passagem estreita, eles descobriram lava solidificada fluindo para fora da zona ativa. A estalactite radioativa formada, que mais tarde foi chamada de “pé de elefante”, era de cor cinza com reflexos metálicos e inclusões vítreas nas laterais.
Os cientistas imediatamente presumiram que essa massa continha chumbo, que foi lançado de helicópteros para resfriar a zona do reator. A estimativa preliminar do peso do objeto foi de 11 toneladas. Os sensores de radiação alertaram literalmente que era impossível aproximar-se do local encontrado! Como lembrou uma das testemunhas oculares, os motores de busca encontraram um cavalo de brinquedo sobre rodas em algum lugar, amarraram um sensor de medição nele e empurraram-no em direção à “pata do elefante”.
O aparelho mostrava 14,5 mil roentgens por hora: o nível de radiação excedeu em 20 vezes a dose letal para humanos!
Os cientistas construíram um sistema a partir de um carrinho autopropelido e uma furadeira elétrica montada no topo. A estrutura aproximou-se da estalactite, mas não foi possível fazer um furo nela – o material revelou-se muito duro. Uma após a outra, as tentativas falharam. No final, um dos militares, arriscando a própria vida, correu rapidamente até o objeto e começou a bater com um machado na massa endurecida. Ele ainda conseguiu quebrar um pequeno pedaço de material, que foi suficiente para análise. O militar foi imediatamente evacuado para o hospital de helicóptero. Nada se sabe sobre seu destino. Os resultados do estudo da substância radioativa mostraram que não havia vestígios de chumbo nela, mas continha em excesso dióxido de silício, urânio, zircônio, titânio, magnésio, grafite e vidro de silicato. Esse é, na verdade, todo o conjunto de radionuclídeos de combustível nuclear nascidos na cozinha infernal do acidente de Chernobyl.
A massa vítrea foi simplesmente apelidada de “Lava”. Essa substância superdensa, praticamente resistente à perfuração, só poderia ser danificada quando disparada com um rifle de assalto Kalashnikov e projéteis perfurantes.
Ainda perigoso
Em meados da década de 1990, as camadas externas da pata do elefante começaram a virar pó e a massa começou a rachar. A intensidade de sua radiação diminuiu sensivelmente e os cientistas começaram a abordá-la com mais frequência, é claro, em trajes de proteção. Em 1996, a instalação chegou a ser visitada pelo vice-diretor do projeto Novo Confinamento – estamos falando da empresa que opera o sarcófago sobre o 4.º reator.
Posteriormente, os cientistas constataram que a massa do futuro “pé de elefante”, antes de assumir sua posição atual, percorreu um caminho de mais de dois metros por meio de canos e fissuras.
Havia preocupações de que as substâncias radioativas pudessem adentrar mais profundamente no solo e entrar em contato com as águas subterrâneas, ameaçando a vida das pessoas que utilizam esta água. No entanto, a partir de 2016, nenhum movimento de massa foi registrado mais profundamente.
A única coisa é a decadência nuclear em curso, que torna o “pé de elefante” vários graus mais quente que o ambiente. No entanto, mesmo essa radiação ainda é perigosa para uma pessoa próxima ao objeto, pois pode superar quaisquer mecanismos de defesa do nosso corpo e modificar as ligações que mantêm o DNA unido e, portanto, levar a todos os tipos de danos a nível celular. Em particular, pode levar à proliferação celular descontrolada, o que causa cancro.
Segundo os cientistas, após 30 segundos próximo ao “pé de elefante” a pessoa sentirá tontura e cansaço, após dois minutos começará a sangrar e desenvolver febre, após 4 minutos serão acrescentados vômitos e diarreia, após mais um minuto o nível de infecção no corpo atingirá um nível crítico, após o qual começarão processos irreversíveis – a morte ocorrerá em dois dias.
A pata de elefante provavelmente ainda é o resíduo mais perigoso do planeta. Este local, segundo os cientistas, permanecerá radioativo por um tempo incrivelmente longo – por 100 mil anos, embora a cada ano o nível de radiação caia gradativamente. Mas ainda é perigoso.
Em 2019, uma nova estrutura isolante foi construída com urgência sobre a 4ª unidade de energia, a fim de proteger completamente o ambiente externo das emissões contínuas de grandes quantidades de isótopos. O novo sarcófago foi projetado para durar 100 anos.