Logo após a virada do ano, na quarta-feira do dia 2 de janeiro de 1935, às 13h20, um homem atravessou a entrada do President Hotel, situado na região central da cidade do Kansas, carregando em mãos nada além de um pente e uma escova de dentes. Bem vestido num terno preto, ele era um pouco corpulento, possuía as estruturas das orelhas levemente deformadas, como as de um boxeador, tinha uma cicatriz branca e horizontal no lado esquerdo da cabeça e aparentava ter mais do que 25 anos de idade.
Conversando sobre amenidades, ele deu o nome de Roland T. Owen durante o check-in, pediu um quarto que não tivesse janela para a rua e recebeu a chave do 1046, localizado no 10º andar do edifício. Logo em seguida, Roland deixou o local e ninguém percebeu se ele possuía um comportamento estranho ou não, sobretudo pelo fato de que o hotel era conhecido na cidade por hospedar viajantes a negócios que gostavam de certa companhia noturna.
O homem na escuridão
No dia 3 de janeiro, por volta do meio-dia, a camareira Mary Soptic bateu à porta do quarto 1046 para poder limpá-lo. Naquele horário, a maioria dos hóspedes havia deixado o hotel e provavelmente passariam o dia fora. Quando ela abriu a porta, encontrou Roland sentado na cama ainda feita, com o quarto submerso numa penumbra causada pela solitária lâmpada do abajur, enquanto as persianas fechadas continham a claridade do sol à pino.
A mulher disse que ele parecia tenso e assustado. Mary falou que poderia voltar mais tarde, mas Roland insistiu que ela ficasse. Enquanto ela limpava, o homem vestiu o casaco e pediu para que Mary deixasse a porta destrancada depois que terminasse, pois ele esperava que um amigo chegasse mais tarde. Ela concordou e assim o fez.
Às 16h, Mary retornou ao 1046 para entregar toalhas limpas. A porta ainda estava destrancada, assim como havia deixado, e, no que entrou, de novo encontrou com Roland, só que dessa vez ele estava deitado e por de cima da cama ainda arrumada. Ele parecia estar dormindo e havia um bilhete na mesa de cabeceira que dizia: “Don, volto em quinze minutos. Aguarde”.
No dia 4 de janeiro, às 10h30, a bizarrice no local permaneceu. A porta do quarto de Roland estava trancada por fora (como acontecia quando os clientes saíam), porém, para espanto da camareira, o homem estava sentado numa cadeira no canto do cômodo, na escuridão. Minutos depois, o telefone tocou e Roland atendeu. Mary pôde ouvi-lo dizer: “Não, Don, eu não quero comer. Não estou com fome. Não, Don, por favor. Não quero”.
Assim que desligou, após alguns segundos de silêncio, ele passou a interrogar Mary a respeito de como era o roteiro de suas funções, pedindo os seus horários e escalas. A mulher respondeu, apesar de achar ainda mais esquisito, uma vez que não havia um pingo de curiosidade no tom dele.
Logo depois do anoitecer, Mary retornou com mais toalhas para o 1046 e, ao bater à porta, recebeu a reposta agressiva de um homem que não era Roland. Ele falou que não precisavam de toalhas e mandou que ela fosse embora e não voltasse.
O homem na noite
No mesmo dia, às 23h da noite, um morador da vizinhança, identificado como Robert Lane, viu um homem correndo pela rua apenas de calças e vestindo uma camisa fina, apesar do frio intenso. Ele descobriria mais tarde que era Roland T. Owen.
Robert parou para perguntar se ele precisava de alguma ajuda e Roland rapidamente perguntou se ele poderia lhe dar uma carona para o President Hotel. Mais de perto, após aceitar o pedido, Robert notou que o seu então passageiro sangrava a partir de um grande ferimento no braço e estava coberto de hematomas. Meses depois, o morador declarou para a polícia ter ouvido Roland sussurrar: “Eu acabarei com isso... amanhã”.
Durante a madrugada, Jean Owen, uma hóspede do quarto 1048, afirmou ter ouvido vozes exaltadas vindas do 1046, uma delas pertencia a uma mulher. Jean pensou em reportar à recepção do hotel, mas desistiu.
Às 2h, uma prostituta que procurava por um cliente no 1026 se perdeu e acabou parando no mesmo andar do quarto 1046. Foi então que ela ouviu um alvoroço, provavelmente de alguém se debatendo, alguns gemidos, barulho de água e depois o silêncio.
Na manhã do dia 5 de janeiro, às 8h30, a recepção do hotel percebeu que o telefone do quarto 1046 estivera fora do gancho desde o início da noite. Imaginando que fosse um descuido, um mensageiro foi até o quarto informar Roland. Como o homem não respondeu quando ele bateu à porta, esse decidiu entrar usando a chave mestra.
Havia sangue nas paredes, pelo chão e respingos até no teto. O cômodo parecia uma sala de abate. No banheiro, Roland T. Owen estava pelado e de joelhos, com a cabeça apoiada na beirada da banheira cheia de água e sangue. Ele tinha uma corda amarrada ao pescoço e ao redor de seus pulsos. O homem havia sido esfaqueado em diversos lugares e possuía um corte no peito, bem sobre o coração.
Aterrorizado, o mensageiro ligou para a polícia, que chegou em poucos minutos e ainda foi capaz de pegar Roland em seus últimos suspiros em direção à inconsciência. Quando indagado sobre quem havia feito aquilo, ele respondeu: “Ninguém”. Completou dizendo que havia caído contra a banheira e que não tentou se suicidar.
Roland T. Owen perdeu a consciência e morreu antes de ser hospitalizado.
Rastros que não se conectam
A autópsia descobriu que boa parte dos ferimentos e as facadas mais letais atingiram Roland no fim da madrugada e início da manhã. O hotel não possuía um controle de quem entrava ou saía que não estivesse hospedado, então não puderam fornecer informações concretas.
Uma investigação varreu os quatro cantos do quarto 1046, porém nada fazia sentido. A arma do crime não foi localizada. Não havia roupas no armário e nem produtos de higiene e roupas de cama. Não havia marcas de pegadas e as impressões digitais femininas sobre o telefone pontuadas pelo sangue de Roland não foram identificadas. Os únicos elementos retirados da cena do crime foram uma gravata, um grampo de cabelo, um cigarro queimado, um pequeno frasco de ácido sulfúrico diluído e um copo de água quebrado sobre a pia.
Logo descobriram que Roland T. Owen não existia em lugar algum e que era um nome falso. No entanto, à medida que o caso ganhava os noticiários e que a polícia apelava ao público, diversas pessoas, em sua maioria donos de estabelecimentos, como hotéis, arenas de luta livre, bares e restaurantes, afirmaram tê-lo visto, incluindo o homem que o deu carona, mas que ele se apresentara com nomes diferentes em todas as ocasiões.
Mas quem era Don e a mulher que Jean Owen ouviu gritando no quarto? Onde esses e outros aspectos se emendavam com o crime? Por que o homem não usou o resto de vida que lhe sobrara para apontar o seu(s) assassino(s)?
Meses depois, sem mais informações, a mídia anunciou que finalmente a polícia enterraria o corpo numa cova anônima. No dia seguinte, uma florista entregou na delegacia um buquê de treze rosas, acompanhado de um bilhete que falava que as flores iriam no topo do caixão e a quantia em dinheiro era destinada ao funeral. No fim do cartão estava escrito: “Amor eterno – Louise”
Cartas para Ruby
Na primavera de 1935, Ruby Ogletree suspeitou que algo não estava certo quando começou a receber cartas cheia de gírias, erros e falas que não correspondiam ao jeito de seu filho de apenas 17 anos, que saíra de casa para viajar pelo mundo em 1934. Até que em agosto do mesmo ano, ela recebeu uma carta de um homem chamado Jordan dizendo que seu filho, Artemus, havia salvado a vida dele e que agora ele era feliz com uma mulher rica no Cairo. E que Artemus havia perdido um dedo, por isso não conseguiria enviar mais cartas para ela. Ruby procurou o consulado do Egito na América, mas não conseguiu localizar Artemus.
Até que em 1936, Eleonor Ogletree, filha de Ruby, leu aletoriamente uma matéria sobre o assassinato de Roland T. Owens no The American Weekly. Pela descrição e foto do homem em seu leito de morte, mas principalmente pela cicatriz na cabeça (fruto de uma queimadura quando criança), ela teve certeza de que era o seu irmão, Artemus Ogletree. A família enviou uma foto dele às autoridades do Kansas e foi confirmado que Roland era na verdade o filho viajante de Ruby.
E ao invés de se encerrar, ainda que o caso e o cadáver do garoto estivessem frios, mais perguntas se somaram ao mistério: quem enviava as cartas à mãe de Artemus e por qual motivo? Quem era Jordan? Quem era Louise?
Além dessas questões, outra surgiu tão maior quanto a sombra delas: o que Artemus pode ter feito?
Com a Informação Mega Curioso.