Elizabeth Bathory: Espelho, Espelho Meu, Orgia de Sangue na Corte. Mistério Resumo.


Antes de iniciarmos nossa horripilante aventura revolvendo o passado histórico de uma determinada região da Europa, devo admitir em particular o meu mais profundo fascínio pelo culto do vampirismo, tema sempre atual que envolve diretamente o prazer ilimitado do sexo em relação absoluta com o que existe de mais lúgubre no imaginário humano.
Segundo o que escreveu Nelson Liano Jr., “A palavra Vampiro tem origem em Vampyr, cuja tradução do romeno é beijo de fogo. É o máximo do prazer, o desejo de tirar da vida o alimento para a eternidade devolvendo ao ser beijado a mesma capacidade de transgredir as leis naturais e morais.” De fato, este ‘beijo de fogo‘ possui uma caráter explicitamente erótico que pode entender-se também como ‘o beijo mais íntimo’, que pode levar ambos ao prazer absoluto!
vampirismo fascina no primeiro momento do impacto por seu caráter orgíaco de luxúria sexual, mas logo após essa primeira impressão, descortina-se ante nós o verdadeiro cenário de violência explícita onde o vermelho vivo da cor do sangue mancha com seus coágulos o chão onde pisamos! Sangue, o líquido da vida!
Como se não bastasse o sexo e o sangue, o vampiro suplanta a temida morte, vence assim o espectro mais temido pela humanidade, a “suprema lei da igualdade que fere sem piedade, a todos sem distinção“, como interpretou Gonçalves Magalhães em relação a morte.
Assim vive este sinistro ser, o vampiro, cadáver que se levantou do sepulcro para beber o sangue dos que ainda respiram a vã esperança da vida… O mito do vampirismo encontrou nas páginas da literatura o local ideal para alojar-se, longe do vulgo, da luz do sol do meio-dia, no obscuro dos livros empoeirados e já carcomidos por cupins de prateleiras de velhas bibliotecas e sebos. Lá dormem o sono diurno todas as legiões de vampiros, acordam quando um de nós, abre uma destas obras e lê num só fôlego todo o tema sobre o assunto, ou faz referências a elas.
Countess Erzebeth Bathory (2004)
Cena do filme independente brasileiro Countess Erzebeth Bathory (2004)
O livro “Drácula” de Bram Stoker, é um exemplo, pois o mito do vampiro é explorado nesta obra de forma explícita, mas explica-se o fenômeno, o fundo da obra possui um caráter histórico, Vlad Tepes Drácula existiu! Mas não é só esta referência histórica que dá o caráter de terror à obra, Bram Stoker juntou a lenda dos vampiros da Europa Central, um personagem histórico cruel e justo da Idade Média, um cenário pestilento, medonho, povoado por pássaros noturnos, lobos, cães, estes que ele chamou-os de “Filhos da Noite“, com suas “músicas tristes que produzem, como um lamento pela solidão“, os lúgubres uivos para a lua…
Juntou todos os resultados de suas pesquisas, leituras de autores góticos, mapeou toda a antiga Transilvânia e através do seu conhecimento em geografia, localizou o castelo arruinado do seu Conde Drácula
Mas tudo isso é assunto para um outro artigo que poderia levar o título de “As Crueldades de Vlad Tepes Drácula“. Mas foi necessária esta pequena reflexão filosófica do mito do vampirismo para culminarmos onde de fato propus a levá-los neste texto.
Referi-me no começo deste escrito, “em uma determinada região da Europa“. Hungria, para ser mais exato. Terra distante, fria, repleta de montanhas e florestas fechadas. País que faz fronteira com a atual Romênia, antiga Transilvânia. Interliga as duas regiões por uma conhecida cadeia de montanhas denominadas “Montes Cárpatos“.
Aqui a geografia parece reunir os aspectos paisagísticos de duas determinadas regiões da Europa Central, ambas cenários reais de fatos históricos ligados ao vampirismo.
Citei Vlad Tepes, príncipe da Valáquia, e em contraste a esta figura masculina, Elizabeth Bathory como a condessa vampiro, também conhecida como cruel e perversa segundo evidências de documentos da época.
Bathory (1)
O que é fascinante é a presença de uma mulher como sendo a vilã da história, como a sua sombra maléfica chegou até nossos dias e mais do que tudo isso, o que fascina-me em particular é o gosto peculiar que Elizabeth Bathory nutria em relação às jovens virgens que ela deliberadamente seviciava em suas orgias lésbicas!
Condessa Bathory viveu em uma época turbulenta repleta de guerras e batalhas violentas. As forças dos exércitos turcos do Império Othomano dominavam quase toda a Hungria, palco das mais impressionantes cenas de guerra da Idade Média. De um lado as tropas austríacas levantavam a bandeira da cruz para reestabelecer as terras dos seus feudos e da igreja, do outro lado os turcos othomanos com a bandeira da meia lua e as espadas sarracenas em punhos bradavam seus ódios aos cristãos!
Apesar do cristianismo possuir uma filosofia de “amor ao próximo“, nesta época matar “o próximo“, o dito “infiel“, era considerado pela igreja como a maior das virtudes.
Mas não eram somente as guerras que sacudiam as muralhas dos castelos. A nova doutrina, a fundada por Martinho Lutero na Alemanha passa a ganhar força e uma das famílias que aderiram ao protestantismo foi a de Bathory…
Neste cenário confuso, Elizabeth Bathory cresceu, muito jovem ainda já chamava a atenção dos homens por seus traços incomuns de rara beleza. Seu rosto rosado em contraste com seus olhos azuis e cabelos ruivos alourados, finos como a seda, garantiram a ela um casamento próspero com algum príncipe ou conde de fortuna.
Mas, antes mesmo de casar-se com o Conde Ferenc Nadasdy, a bela Elizabeth havia engravidado de uma aventura promíscua com um rude camponês. A família de Bathory manteve-a escondida dos olhares curiosos até que Elizabeth desse à luz a esta criança, que depois não se tem registro sobre o destino dela, provavelmente fora assassinada para que o bebê não fosse motivo de recusa por parte do Conde Nadasdy, que possuía forte reputação como soldado valente.
Castelo onde a Condessa teria criado seu reinado de terror!
Castelo onde a Condessa teria estabelecido seu reinado de terror!
Em 1575, Elizabeth Bathory casou-se com o conde e foram morar no Castelo Sarvar, e foi aqui que sua carreira maligna começou a ganhar proporção assustadora…
Em um outro trabalho escrito por mim a respeito de Bathory, disse que “a história da Condessa Bathory assusta porque foi verídica“. Nesta pequena obra que escrevi, inspirado neste perverso personagem histórico, juntei algumas evidências somadas, é claro, à imaginação visionária e até abstrata, e em toda fonte onde pesquisei a seu respeito, todas advertem com relação à crueldade perversa desta mulher.
Aqui começa o horror medonho envolto sempre em orgias de sangue fresco de lindas jovens, a maioria virgens em pleno frescor da juventude. Conta-se que o Conde Nadasdy passava a maior parte de sua vida nos campos de guerra combatendo os turcos como o próprio Vlad Tepes fez alguns anos antes na Transilvânia. Elizabeth, mulher bela, jovem e vaidosa, passou a se sentir muito só em plena lua-de-mel e sua “carência sexual” levou-a em um universo curioso explorado sempre só por raros indivíduos nesta terra. Aventuras e perversões sexuais das mais variadas formas com requintes específicos de excentricidade que culminaram em uma paixão especial por mulheres!
O lesbianismo explícito foi que completou o cenário onde ocorreu toda a tragédia, pois destas orgias demoníacas muito sangue foi derramado para o deleite de Elizabeth Bathory.
O seu maior conflito consistia no medo da velhice. Perder a juventude e a beleza era para Elizabeth Bathory o mais cruel dos castigos, Ela temia assim a sua própria deterioração natural, aquela que toda a criatura logo ao nascer já está condenada!
Freud, o fundador da Psicanálise, trabalhou muito este conflito em seus textos. Ele escreveu a seguinte frase que pode talvez explicar o conflito de alguém que viveu na Idade Média ou qualquer um de nós contemporâneos:
Bathory (4)
“Todos nós devemos duas coisas para a natureza, devemos a ela uma velhice e uma morte…”
Inexoravelmente, a velhice e a morte são dois espectros assustadores e inevitáveis! Talvez este medo que está alojado lá no inconsciente humano seja o principal gerador que deu força e impulsionou o comportamento sádico de Elizabeth Bathory. Ela, temendo perder sua própria beleza, passou a tomar banhos de sangue em uma tina preparada para esta finalidade! Acreditava-se que se o sangue é o líquido da vida, com certeza este, colhido de uma mulher jovem e bela teria o poder de conservar a beleza física de quem se banhasse nele!
O beijo promíscuo abaixo do ventre de uma jovem virgem também possuiria este caráter rejuvenescedor devido ao seu elevado prazer ao experimentar o “mel do reino de Vênus“, a deusa mitológica do amor e da beleza. Mas tudo isso possui um caráter vampírico porque como lhes disse, sexo e sangue são os dois ingredientes básicos do culto do vampirismo.
A beleza física é a única arma que a natureza deu para a mulher, e com este artifício ela sempre reinou no mundo. Elizabeth, sabendo disso, fez do culto narcisista da sua própria beleza, um ritual perverso que ultrapassou toda e qualquer forma de compreensão, culminando em crimes hediondos!
Os espelhos são os brinquedos da vaidade humana“, diz Drácula à Jonathan Harker no romance escrito por Bram Stoker. De fato e provavelmente em cada quarto do Castelo Sarvar, Elizabeth Bathory teria posto um, para passar horas diante dele penteando os cabelos e cultuando a si própria como se ela fosse a mais bela das belas! E de fato era…
Para um vampiro, de nada significa um espelho pois sua imagem não reflete nele, mas para uma mulher como Elizabeth Bathory, uma espelho significava tudo!
Provavelmente o Conde Nadasdy teria morrido por volta de 1604 em campo de batalha, ficando a condessa Bathory viúva e herdando todo o poder administrativo das terras pertencentes ao conde. Agora que ela tinha o poder absoluto em suas próprias mãos, passa a abusar sem controle transformando seu reinado em um “Reinado de Terror“, como ficou conhecido.
Para aplacar sua obsessão de conservar-se sempre jovem, passou a organizar diligências noturnas para raptar as jovens mais formosas da região, e após torturá-las caso recusassem seus “beijos de fogo“, estas eram assassinadas a golpes de tesoura e quem executava estas ordens era um homem chamado Thorco e um mordomo chamado Johannes. Estes dois indivíduos eram o braço direito de Elizabeth Bathory.
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Thorco era um criado serviçal, muito fiel a sua condessa. Ele preparava então uma enorme tina de madeira usada para banhos quentes no inverno, e enchia-a com o sangue das jovens assassinadas. Bathory, em seguida, ficava horas banhando-se nua sobre os coágulos ainda quentes das vítimas…
Nesta volúpia desenfreadamente perversa, a condessa Elizabeth Bathory deleitava-se monologando em voz alta todos os seus anseios sobre a vida. Seu belo corpo ficava coberto pelo sangue fresco, que após contato com o ar ia já se coagulando dentro da própria tina de banho.
Completamente fora da realidade, tinha apenas diante de si a obsessão infinita de ser sempre bela. A beleza, segundo o poeta alemão Schiller, “é o objeto para nós, porque a reflexão é condição sob a qual temos uma sensação dela“. Ainda Schiller: “Ela é, portanto, forma, pois que a contemplamos, mas é, ao mesmo tempo, vida, pois que a sentimos…
Sim, uma mulher bela é um atrativo de alto valor e isto não se pode negar, pois ao pousarmos nossos olhos em uma mulher bela, sentimo-nos arrebatados da terra, não é mesmo?
Oh, dor profunda que deve ser para uma beldade olhar-se num espelho e ver a mão gelada do tempo tocando levemente por todo o belo corpo. As rugas que vão substituindo cada centímetro do rosto, transformando Vênus em uma Bruxa.
Envelhecer é ferir a vaidade e é a vaidade o único alimento nutritivo da mulher… Mas será que este conflito justifica atitudes tão cruéis praticadas por Elizabeth Bathory?
Quem somos nós para julgar os crimes desta natureza? Contudo, ficamos impressionados!
Condessa Bathory possuía uma corte onde todos os seus integrantes compartilhavam destas estranhas atitudes. Duas outras mulheres de nomes Dorottya e Darvulia, também colaboravam com a condessa, ensinando a ela as chaves secretas da magia negra. Assim, todo antigo ensinamento cristão, católico ou protestante, nada mais significava para Bathory, e através do culto ao diabo e a prática da necromancia, a condessa fortalecia cada vez mais sua sinistra personalidade, agora auxiliada por duas feiticeiras que já há muito tempo eram conhecidas na região…
Sabe-se que Bram Stoker tinha conhecimento dos fatos históricos ligados à Bathory. Uma escritora chamada Sabine Baring-Gould publicou em 1865 um livro intitulado “The Book of Werewolves“, com extenso texto relatando as atrocidades de Elizabeth Bathory. E provavelmente a alusão onde Drácula ao beber sangue torna-se mais jovial possui um fundo que pode referir-se à sinistra mania de banho em sangue como tratamento rejuvenescedor, pois Stoker pesquisou o tema com profundidade!
Mas se Elizabeth Bathory entrou para a história desta maneira tão horripilante, nossa imaginação criadora faz dela uma verdadeira vampira sanguinária muito real por sinal, pois não trata-se de uma lenda narrada por ciganos romenos ou húngaros, mas de um fato verídico.
Seria este o crânio de Bathory?
Seria este o crânio de Bathory?
Em nenhuma outra região da Europa, o horror e o sobrenatural folclórico foram tão fortes. A crença em vampiros ou cadáveres que voltam à vida levantando-se de seus túmulos era de fato o que mais assustava as pessoas. Imaginemos agora todo o mito do vampirismo já há muito tempo enrraigado na mentalidade destes povos e as evidências destes relatos sobre Elizabeth Bathory ou mesmo sobre Vlad Tepes! Tudo parece interligar-se forçosamente.
Drácula é descendente direto das raças guerreiras que derramaram sangue sem precedentes. Um de seus ramos genealógicos culmina em Átila, o Rei dos Hunos, povo bárbaro que devastou toda a Europa Medieval e principalmente o que havia resistido do antigo Império Romano. Os próprios romanos diziam que “por onde os exércitos de Átila passavam, não nascia mais nada, nem capim!“. Era o flagelo de Deus! Este lado central da Europa quase já oriental foi marcado por toda sorte de acontecimentos avassaladores não só do ponto de vista militar e de guerras, mas também fatos que possuem uma ligação direta com o vampirismo.
Mas não basta só o terror do vampirismo em si mesmo, a maldade humana tem um papel bastante significativo para dar sentido à “certas lendas“…
Elizabeth Bathory praticava além de seus banhos em sangue fresco, a tortura! Martirizou centenas de jovens pelo simples prazer sádico de ver o sofrimento alheio. Entre estes bizarros costumes destaca-se as dentadas nos bicos dos seios das jovens acorrentadas nuas em masmorras subterrâneas do castelo. Mordia-se então os seios, rasgava-os e lambia-se o sangue! Mas não eram somente as pontas dos bicos dos seios que eram rasgadas, os pulsos também eram perfurados e o sangue escoado servia para aquela finalidade da qual já lhes disse…
Certa vez, num momento de demência sem precedentes, Elizabeth Bathory mordeu todo o rosto de uma linda jovem prisioneira, desfigurando todo o semblante até os ossos do crânio. Percebe-se aqui que o inconsciente agiu de maneira instintiva, porque se a obsessão de Bathory era ser sempre jovem e bela, nenhuma outra mulher poderia ser mais linda do que ela e se fosse seria então “a fonte segura” para sugar-lhe o que a mesma tinha de mais precioso ou seja, seu belo sexo, seu lindo corpo e o precioso sangue jovem…
Está mais que evidente que os relatos sobre a Condessa Bathory poderiam também culminar em uma profunda inspiração em uma gigantesca obra, como fez Bram Stoker com Vlad Drácula, mas acredito que ainda não surgiu outro gênio para elaborar tal obra. Ou será que já existe e eu não tenho a informação a respeito? Afinal, o campo nosso de pesquisa do terror é tão limitado…
A Condessa Drácula (1971)
Cena do filme A Condessa Drácula, de 1971
Existem alguns filmes sobre Elizabeth Bathory e destaca-se um de muitíssima boa qualidade intitulado Condessa Drácula (Countess Dracula, 1971), da produtora inglesa HammerMichael Parry faz uma excelente romantização da obra baseada em uma biografia de Elizabeth Bathory escrita por Valentine Penrose, intitulada “The Bloody Countess“. Para atuar como papel principal escolheram uma atriz muito bonita chamada Ingrid Pitt, que encarnou ao meu ver, muito bem o papel da Condessa Bathory, e o roteiro do filme procurou trabalhar bem algumas lendas e fatos reais relacionados à verdadeira Elizabeth Bathory (1560-1614).
Mas se o cinema soube explorar muito bem o mito do Conde Drácula, produzindo as mais diversificadas versões em mais de 100 anos de história cinematográfica, deixou muito a desejar sobre o tema da Condessa Bathory, que é riquíssimo em material de horror! A produção de filmes sobre Bathory é pouca e rara de se encontrar e isso é lamentável, afinal muito se perdeu com essa exclusão em relação ao episódio de Bathory. Por outro lado, a condessa vampiro que ficou mais no anonimato do que nas “telas“, adquiriu um caráter mais misterioso e sinistro, exclusivo até!
E isso é já uma vitória sobre a mediocridade, ao passo que a imagem do Conde Drácula cinematográfico foi metamorfoseada em versões distorcidas que variavam do cômico ao ridículo, transformando o “vampiro” em “trapalhão” no caso das comédias idiotas produzidas em cima do mito com o intuito de gerar dinheiro apenas.
Este tipo de aberração não se deu somente com o Conde Drácula, mas também com o Monstro de Frankenstein de Mary Shelley….
Mas deixemos para lá estas coisas medonhas que alguns indivíduos fizeram para tentar denegrir as imagens sinistras de Drácula ou Frankenstein, a obra literária é imortal e com uma só versão, a original! É claro que devemos admitir que algumas versões cômicas destes mitos saíram até legais de se ver, e não devemos ser radicais mais ecléticos.
Existe uma banda de Death Metal muito boa onde o protótipo nome do grupo é “Bathory“. Não tenho muita informação a respeito dessa banda, mas já tive a oportunidade de ouvir algum trabalho desenvolvido pelo grupo. Destaca-se o disco “Blood Fire Death“, aprovado não somente pela excentricidade do grupo mas pelos temas que eles abordam nas letras de suas músicas, alusões à assuntos ligados com a Condessa Bathory, mitologia nórdica, guerras e sangrentos massacres do passado. Não posso arriscar uma opinião mais ousada sobre a banda por ser leigo no assunto da mesma.
Voltemos ao final da Idade Média, no contexto histórico da Condessa Bathory. Voltemos naqueles dias de terror através da nossa abstração mental, assim talvez conseguiremos medir a gravidade dos fatos! Cerca de mais de seiscentas e cinquenta moças foram martirizadas no reinado da sinistra condessa e não foram somente jovens raptadas das aldeias da Hungria, mas as próprias criadas do castelo foram vítimas neste lúgubre ocorrido.
Pintura de St Csok
Pintura de St Csok
Existe uma pintura artística produzida pelo talento do genial St Csok, que retratou em tela o cenário da Corte de Elizabeth Bathory, obra inédita que inspirou-me a produzir o título deste artigo, “Orgia de Sangue na Corte de Elizabeth Bathory“, exatamente por ilustrar em uma imagem diabólica e dramática ao mesmo tempo, onde a condessa deleita-se junto à sua comitiva com quatro lindas jovens. Esta pintura data-se do final do século XIX. Nota-se que não foi um contemporâneo de Bathory, mas um conhecedor de suas atrocidades.
Mas se os vampiros eram apenas “lendas“, com o episódio de Bathory, o horror torna-se real, e a condessa passa a ser vista como uma vampira viva!
Muitos corpos sem uma só gota de sangue eram jogados num campo afastado do castelo durante a fria madrugada. Com o passar dos dias juntavam-se corvos e abutres para devorar aqueles restos mortais chamando a atenção da população local que além de supersticiosa era muito religiosa. Entre estes indivíduos comentava-se qualquer coisa a respeito de que era um morto-vivo, ou um “vikolslak“, ou um “vrolok“, palavras de origem eslovaca e sérvia para designar um demônio vampiro sugador de sangue!
Sim, era um vampiro, um Nosferatu, o autor daquelas atrocidades. Aqui Nosferatu significa também “não morto“, ou “vampiro que transmite a peste“, ou coisa parecida. Mal sabiam os aldeões, a maioria ciganos também, que tudo aquilo era fruto de um ser perverso feminil.
Elizabeth Bathory estava por trás de tudo aquilo e chegou um momento que as próprias autoridades de outros feudos passaram a investigar aqueles crimes tão monstruosos.
Rei Matias II organizou intensas diligências com o intuito de descobrir quem eram os criminosos pois o número de raptos de jovens era alarmante. Viajou para uma pequena região chamada Bratislava e em seguida acionou a autoridade local que estava sob o poder do Conde Thurzo. E este intensificou as investigações até descobrir o causador de tantos malefícios.
Segundo relatos de documentos da época, foi por volta do dia 29 de dezembro de 1610 que se conseguiu desvendar o enigma dos corpos mutilados e sem sangue. O castelo da Condessa Elizabeth Bathory foi invadido por tropas fortemente armadas, mas os próprios soldados não acreditaram no que viram! Depararam com o inesperado, dezenas de corpos de adolescentes completamente sem uma só gota de sangue e alguns mutilados com profundas marcas de queimaduras e outros tipos de torturas. Além de perfurações pelo corpo já em estado de putrefação.
Cena do filme A Condessa, de 2009
Cena do filme A Condessa, de 2009
Segundo os autores da obra “Em busca de Drácula e outros vampiros“, os geniais Raymond T. McNally e Radu Florescu, “o terror e o horror são reações de medo às coisas, pessoas, fatos ou circunstâncias assustadoras“, imaginem o medonho horror presenciado por aqueles indivíduos e o terror que sentiram aquelas vítimas da condessa vampiro, quando ainda respiravam e tinham consciência do destino que as aguardavam!
Mas o “Reinado de Terror” sucumbiu e todos os integrantes personagens envolvidos no episódio foram condenados à fogueira, bem à moda inquisitorial da igreja católica, que apesar de ter sido contestada pelos protestantes, mantinha ainda o seu poder dominante.
Elizabeth Bathory foi a única que não foi para as “chamas sagradas da purificação“. A sentença para ela foi outra, e bem mais cruel.
Em seu próprio castelo foi mandado vedar com blocos de pedra e argamassa um dos quartos para que não entrasse a luz do sol e ali, transformado em uma prisão ou cela especial estreita, Elizabeth Bathory foi emparedada viva e consciente de seu destino completamente distante e isolada de todo e qualquer convívio humano.
Apenas uma pequena fresta foi deixada abaixo de uma das paredes e por ali passava-se o prato de alimento e a água, nada além disso.
Este foi o seu destino, confinada para sempre até o dia de sua morte… e nesta sombria cela os seus últimos dias de vida devem ter sido o inferno, quais foram os seus pensamentos? Nunca saberemos, mas se o conflito maior de Elizabeth Bathory era o medo da velhice e da morte, podemos fazer uma reflexão da sua angústia, isolada de toda a realidade que a cercava.
Stay Alive (2006)
Cena do filme Stay Alive, de 2006
Não posso esquecer de fazer uma citação de Edgar Allan Poe, um dos mestres da literatura de terror, pois afinal em um de seus contos, “O Barril de Amontilado“, um de seus personagens, o Fortunato, tem um final semelhante ao de Bathory, ele é emparedado… ainda num outro conto de terror intitulado “O Gato Preto“, um de seus personagens empareda o cadáver da própria mulher e sem querer um gato preto junto, este vivo! Que coincidência…
Assim o horror gera mais horror sempre refletindo as consequências das atitudes e vícios humanos. Elizabeth Bathory morreu por volta do ano de 1614 e com a sua morte nascia o mito da Condessa Vampiro, e só restava a lembrança de uma mulher terrível e cruel que também deixou a sua marca na civilização que estava em transição para um novo tempo dentro da história…
Notas: Quanto à música, a já citada banda sueca “Bathory” foi criada no início dos anos 80 por Quorthon, e é uma das mais importantes dentro da história do Black Metal, sendo parte integrante dos primórdios do estilo. Alguns de seus discos como “Bathory“, “The Return…” e “Under the Sign of the Black Mark” são verdadeiros marcos do gênero e músicas como “Hades“, “Necromansy” e “Raise the Dead” dão uma ideia da temática que abordam. Uma outra banda importante desse estilo musical, a inglesa “Venom“, gravou em 1984 uma excelente faixa intitulada “Countess Bathory“, e que foi regravada em 1992 como cover pelos alemães da excepcional banda “Unleashed“. Quanto ao cinema, além do já citado Condessa Drácula (71), a sanguinária Condessa Bathory foi tema de outras fitas da década de 70 como A Força do Diabo (72), Lábios de Sangue (71) e Contos Imorais (74).










Com a Informação Boca do Inferno.
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